sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Casa da Criação - Espírito Indomável

Permitam-me que vos contacte para uma breve troca de impressões caso estejam dispostos a ouvi-las.
Tenho 60 anos e sou economista/MBA graduado pelo ISEG e também um cinéfilo que começou a ver filmes desde que a idade me permitiu. Esta práctica conjugada com inerente pesquisa autoriza-me a, dentro do meu estilo favorito - o western - ( que "críticos conceituados" da nossa praça há muito profetizaram o fim), poder detectar situações menos felizes numa telenovela que tem possibilidades infinitas de se aproximar ao cinema (como aliás fazem os americanos) e cujos erros são tão evidentes até confrangedores.
 Tenho para mim que uma telenovela deve ser no mínimo credível em certos pormenores para que a sua aderência á realidade entusiasme os expectadores. Não esquecer esse grande momento do "western chaparro" que foi o Alentejo sem Lei, de João Canijo com o saudoso Carlos Daniel que eu revejo de vez em quando.


Mas vamos ao que interessa, na novela Espírito Indomável acontecem um pequeno número de situações que são no mínimo risíveis, a ver:


  1. A investigação de Lourenço não passa de perguntas e manuseio de dossiers parecendo uma justiça do século XIX. Porque não foi feita pela GNR a reconstituição do crime ? Mais grave, porque durante a autópsia dos dois guardas assassinados não se extrairam as balas e a balística determinou de que revólver provinham: Smith & Wesson .38, Taurus, Ruger, etc. Na posse destes dados poderá perguntar-se a "Rodrigo Monteiro Castro" que apresentasse as suas armas. Caso contrário o mandato do juiz avançaria.
  2. Numa herdade de criadores não se vê ninguém conduzir a cavalo uma manada nem que seja num período curto.
  3. As armas são anedóticas. toda a gente sabe que na provínvia a arma dominante á a caçadeira de canos paralelos. Como aparecem espingardas de pólvora negra de um único tiro que  são usadas em reconstituições históricas ou pelos coleccionadores (esta é a minha área). Tenho estudado a fundo a telenovela e mais erros encontro. Claro que me dirão que estes programas são para gente com um grau de literacia inferior, mas então pela minha parte desisto e aceito a mediocridade nacional.
  4.  Lourenço está sempre com medo de compreender a resposta de Rafael ás provocações de João. é sempre o mesmo que é admoestado.
  5. Falta á telenovela um personagem tipo Sergio Leone, a ver: porque não aparece um irmão do qual o "Joaquim Figueira" nunca falou á família que se encontra radicado nos Estados Unidos com um rancho em Wyoming e que o vai visitar como resposta a um apelo daquele, e que vem tentar resolver algunsproblemas á boa maneira americana. Esse homem vestido com um fato negro apeia-se do comboio.  A câmara a filmar ao nível do chão vendo cair a mala de viagem e depois apontando para cima aonde lhe descobre um Stetson negro. O homem pergunta a um transeunte aonde pode beber alguma coisa e é-lhe indicado O Refúgio aonde Ju com o seu feitio metediço vê entrar o personagem que apenas lhe pede: Bourbon, double. Lourenço e o inspector estão sentados numa mesa e especulam quem será. O homem peergunta em alto se alguém pode indicar-lhe aonde é o rancho de Joaquim Figueira. O inspector levanta-se, identifica-se e pergunta ao homem quem é ele e o que faz em Coruche ao que este responde se é procurado por alguma coisa. Como a reposta é negativa o homem diz ao inspector para desaparecer. Este manda-lhe abrir a mala de viagem. O homem ciente do que está lá dentro, o seu inseparável Colt de 1873 diz-lhe que procure um mandato do juiz.
Este pequenissimo exercício que pode ser ampliado até ás 1000 páginas sempre com pormenores enriquecedores denotam o interesse que a novela pode despertar . Para se ser guionista tem de se conhecer a fundo o ambiente em que pretende se enquadre a telenovela.

Gostei muito desta pequena conversa e se desejarem que ela uma realidade podem contar com a minha disponibilidade dentro da minha agenda.

Cumprimentos
José Lucas - 918730781